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sábado, 6 de fevereiro de 2010

De Daba para Daba

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Imagem e texto retirados de www.biospiritual.com
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A escultura de pedra na figura acima vem do Zimbabwe, África. O escultor, Gift Muza, cresceu numa cultura não alienada da “inteligência” do corpo.
Ele descreveu esta figura como tratando-se de uma pessoa a ouvir a inteligência (Daba) do estômago à medida que tenta falar com a inteligência (Daba) do corpo. Chamou-lhe de Daba para Daba.
É fácil perceber este processo bem representado através dos olhos tranquilamente descidos na direcção do corpo enquanto um braço deixa o Daba do estômago saber que está a ser ouvido. Ao mesmo tempo, o outro braço parece unir o corpo com a sabedoria da cabeça de uma forma arrojada e viva.
O escultor disse também que as pessoas de Shona sabem quando perdem o contacto consigo próprias pois conseguem senti-lo no corpo. Nessa altura demoram algum tempo a prestar atenção ao que a inteligência do corpo, que se expressa através de sensações, está a tentar dizer à inteligência da mente. A sua maneira de o fazer é ao passar algum tempo numa audição Daba-Daba permitindo que o Daba do seu corpo diga ao Daba da sua mente o que esta precisa de saber.
Sempre que uma palavra, imagem ou memória se relaciona com o Daba do corpo e eles sentem uma “mudança” interior, então o Daba do corpo pode falar com o Daba da mente. Novos significados emergem juntamente com uma maior clareza sobre o rumo ou o comportamento apropriado.
A imagem fala de uma “presença solícita” que respeita tanto o pensamento claro da mente como a forma de conhecimento mais elaborada do corpo. A escultura modela-nos a maneira como nos devemos relacionar com nós próprios.
Esta não é uma imagem de guerra ou tenção entre a mente e o corpo, mas sim de cooperação. Ela expressa uma sensação de relacionamento, de ligação e de audição da totalidade de nós próprios.
De Daba para Daba representa um tema subjacente à Focalização.
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sábado, 15 de novembro de 2008

Simplesmente silêncio


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Embora nem sempre consciente disso, fui, e ainda sou, uma pessoa com uma mente extremamente activa que salta de assunto em assunto como uma borboleta de flor em flor, causa certa das dificuldades em me concentrar que recordo desde os tempos de escola. Apenas à frente da televisão, e mais tarde com um livro, eu conseguia alhear-me de tudo, o que levava os meus pais a brincarem comigo por não ouvir nada do que me diziam nessas ocasiões. Não sei se esse terá sido ou não o motivo por me ter viciado em televisão: nestes períodos não ouço o matraquear constante da minha mente.
Como exemplos mais específicos tenho o meu primeiro desgosto amoroso no secundário quando após um namoro de perto de 2 meses o meu namorado terminou a curta relação e me deixou "de rastos". Semanas mais tarde sentia uma enorme vontade de tirar umas férias de mim mesma. Estava cansada do constante repisar de conversas imaginárias com ele, pensando em coisas que nunca cheguei a dizer, outras que talvez não devesse ter dito ou poderiam ter sido ditas de forma diferente, conversas estas que de repetiam interminavelmente e me deixavam exausta.
Muitos anos depois, com a minha vida virada do avesso, no pior período de sempre da minha história, a sensação era muitas vezes mais intensa e a vontade de fugir concretizou-se numa visita a uma amiga que morava no Alentejo. É claro que por muito que alguém fuja nunca conseguirá deixar a sua própria mente para trás. E eu não sou excepção!
Mas houve uma ocasião em que essa amiga me levou consigo quando foi dar aulas a uma aldeia mais distante deixando-me junto a uma barragem acompanhada apenas por um livro, umas folhas de papel e uns lápis para o caso de me apetecer desenhar.
Não sei explicar o que aconteceu, mas desde o momento em que os meus olhos pousaram naquela paisagem absolutamente natural do Alto Alentejo em pleno esplendor da Primavera, o meu pesado coração pareceu levitar, o meu espírito desanuviou e durante as duas horas que ali passei, sem ver vivalma e sem mais ouvir que o som esporádico de algum motociclista que corria nos trilhos da colina adjacente, senti-me, pela primeira vez em muito tempo, em paz e num estado de tranquila felicidade. Não faço ideia do que passava pela minha cabeça, não peguei no livro e pouco desenhei, antes andei por entre as árvores, trepei uma ou duas para olhar o céu azul por entre as folhas que abanavam levemente ao sabor de uma suave brisa. Descalcei-me e, arregaçando as calças até aos joelhos, passeei pela água fria sentindo os seixos grossos debaixo dos pés, sozinha no meu mundo.
Quando a minha amiga regressou, preocupada por me ter deixado só por tanto tempo, encontrou alguém muito diferente de quem tinha deixado.
Para onde foi todo o sofrimento dos últimos meses, que me impedia de dormir ou alimentar correctamente, é algo que nunca consegui responder. E agora, ao ler Byron Katie, não posso deixar de ser a primeira a concordar que ele é única e exclusivamente produto dos nossos próprios pensamentos. Como não?
Escusado será também dizer que o efeito apenas durou umas horas e nessa mesma noite tudo voltou a ser como antes.
Tenho, em particular nos últimos anos, procurado uma forma de relaxar, de desligar, nem que por breves instantes, o intenso corropio.
Do Yoga à meditação, a sensação acaba sempre em frustração porque nunca consigo "desligar".
Eckhart Tolle, já no seu livro "O Poder do Agora" que li há alguns anos, dá algumas dicas sobre como conseguir estar no momento presente ou como sentir o meu corpo interno. Naquela altura não consegui melhores resultados e algum tempo depois de ter terminado o livro, e como me é habitual, acabei por esquecer e deixar de tentar.
Agora, talvez pelo que entretanto "cresci", tenho conseguido alguns instantes de silêncio e o resultado é um tanto agridoce. Se por um lado a sensação é de uma paz e tranquilidade absolutas, por outro é também um silêncio "ensurdecedor" e algo assustador. É como se de repente me visse absolutamente sozinha sem, tão pouco, a minha própria companhia. Pode parecer estranho, talvez nem todas as pessoas sejam assim, embora saiba que não sou a única, mas a verdade é que nunca me conheci dessa forma, desde que me conheço que ouço a mim mesma dentro da minha própria cabeça e são anos a mais para mudar de um dia para o outro.
Ao reconhecer que não sou a minha mente, que essa outra parte de mim não passa de uma ilusão que, disfarçada de boas intenções, me traz mais mágoa e dor que bem-estar, estou a dar o primeiro passo para encontrar a paz e harmonia interiores absolutas que apenas existem no momento presente.
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